Por que a reciclagem sozinha não vai nos salvar
O mundo está produzindo mais plástico do que nunca. Em 2023, a produção global chegou a 413 milhões de toneladas, mais que o dobro do volume de vinte anos atrás. Apenas 9–10% são reciclados; o restante é queimado, enterrado ou acaba no meio ambiente (DW).
O problema do plástico
O maior vilão é a embalagem, que representa quase 40% de todo o consumo. Garrafas descartáveis, pacotes de salgadinhos e envelopes de envio dominam a produção. A moda rápida também contribui, já que fibras sintéticas liberam microplásticos que poluem rios, mares e entram na cadeia alimentar. Essas partículas já foram encontradas no ar, no solo, nos oceanos e até no sangue e nos pulmões humanos. Cientistas alertam que podem desregular hormônios e causar danos à saúde a longo prazo.
Durante décadas, a reciclagem foi apresentada como a solução. Mas, na prática, resolve apenas uma parte mínima. Muitos plásticos não podem ser reciclados por causa de aditivos ou por serem feitos de materiais mistos. Mesmo as garrafas PET — entre os plásticos mais fáceis de reciclar — frequentemente acabam em aterros ou incineradores. Como explica a bióloga marinha Melanie Bergmann: “Se a produção de plástico continuar crescendo, a infraestrutura de reciclagem nunca vai conseguir acompanhar” (DW).
O que precisa mudar
Os especialistas concordam que o verdadeiro progresso só virá se enfrentarmos o problema na sua origem: a superprodução. Isso exige eliminar gradualmente os plásticos descartáveis, responsabilizar as empresas por todo o ciclo de vida de suas embalagens e investir em alternativas sustentáveis, como materiais compostáveis, modelos de refil e sistemas de reutilização. No nível global, é urgente um tratado internacional sobre plásticos com compromissos vinculantes para limitar a produção e os aditivos tóxicos.
Um momento histórico
Delegados de mais de 170 países estão negociando um tratado global sobre plásticos. Muitos defendem limites rígidos de produção, mas países produtores de petróleo e lobistas da indústria resistem, defendendo medidas mais brandas focadas apenas em reciclagem e gestão de resíduos.
O resultado vai definir o futuro do planeta. Sem ação ousada, espera-se que a produção de plástico duplique nos próximos 20 anos, prendendo-nos a níveis ainda maiores de poluição.
A inundação de plástico já chegou. A questão é: teremos coragem de detê-la?